Ao entrar no Anfiteatro de Económicas (...), deparei com um encapuçado cujo destino se discutia. A maioria dos estudantes presentes considerava tratar-se de um pide destacado para a ronda do dia. Alguém, no entanto, achou preferível comunicar às autoridades académicas o “achado”. Debatiam-se estas e outras informações quando entrou no anfiteatro um pide sem disfarce com a tarefa de certificar ou infirmar a qualidade do encapuçado. A afronta era demasiada. (...) o pide sem disfarce pode tirar a arma. José António Ribeiro Santos, que estava a esmurrar-lhe a cara, foi logo atingido com um tiro: bastou encostar a arma e disparar. O Ribeiro Santos tombou imediatamente; acto contínuo, o José Lamego agarrou na mão do pide, o qual, apesar disso, continuou a disparar. Atingiu o José Lamego numa perna (...) Na correria da fuga em direcção à esquadra da PSP, ao descer as escadas o pide voltou a carregar a arma e disparou de novo.
(...)
Um estudante de Medicina e eu próprio acompanhámos o Ribeiro Santos até à urgência do Hospital de Santa Maria. Recordo-me de o automóvel ter parado em Sete Rios e o Ribeiro Santos pedir ao condutor que apitasse e avançasse.
(...)
O assassinato do Ribeiro Santos, e toda a movimentação popular gerada no seu seguimento, foi o safanão que quebrou as resistências que eu punha até então a uma maior militância política. Concluí que os fascistas eram mesmo tigres de papel, e que era meu dever, por ter alcançado esta consciência, pôr em primeiro lugar a luta contra o fascismo e a guerra colonial (...) Escolhi militar por tais objectivos. Acabei expulso da Faculdade de Direito de Lisboa e fui impedido de me matricular em Coimbra.
Reorganização da Direção-Geral de Segurança (a PIDE mudou de nome para DGS)