Funeral

No dia seguinte ao assassinato de Ribeiro Santos pela PIDE/DGS, numa enorme explosão de raiva e revolta, realizaram-se inúmeras manifestações estudantis por toda a cidade de Lisboa, com intensa distribuição de comunicados à população, registando-se vários confrontos com a polícia e o apedrejamento de instalações governamentais e diversos estabelecimentos bancários.

O seu funeral, amplamente convocado (ver anexos) e realizado no sábado, 14 de outubro, dois dias depois do assassinato, transformou-se numa impressionante e corajosa manifestação de protesto contra o fascismo e de resistência ao aparatoso dispositivo das forças policiais. 

Aceda a fotografias inéditas do funeral, da autoria de Zacarias Duarte Ferreira (ANTT)

 

 

Milhares de pessoas, estudantes, operários, homens e mulheres do povo, acorreram para prestar homenagem a Ribeiro Santos, concentrando-se em toda a zona da Calçada e do Largo de Santos, frente ao prédio onde viveu e onde se iniciou o funeral, e nas ruas de Santos-o-Velho e de São João da Mata.

 

 

O cortejo não devia ter ainda avançado mais de 50 metros, quando a PIDE/DGS e a polícia de choque, num golpe de desespero, resolveram apoderar-se à força, à bastonada, da urna que os familiares, camaradas e amigos de Ribeiro Santos começaram por segurar e levar aos ombros, preparando-se para a transportar em cortejo até ao cemitério da Ajuda.

Este gesto cobarde fez  despoletar a fúria incontida da multidão que perseguiu os sequestradores até ao cemitério, entretanto cercado pela polícia, gritando "assassinos! assassinos!" e "abaixo o fascismo!".

Conforme se lê em comunicados publicados nessa própria noite pela Comissão de Luta Contra a Repressão, "a resistência à agressão dos caceteiros não se fez esperar. À pedrada e por todas as formas ao seu alcance, sustiveram durante algum tempo as arremetidas policiais. Alguns estudantes, que entretanto foram presos, conseguiram ser arrancados das mãos dos agressores por camaradas seus. Um pide que filmava os acontecimentos foi prontamente atacado sendo despedaçada a máquina e recebendo aquele o tratamento adequado. (...) Após a polícia se ter apoderado do corpo, o carro funerário seguiu a grande velocidade para o cemitério escoltado pela polícia motorizada."

Na verdadeira batalha campal que se desenrolou, entre Santos e a Ajuda, passando pelas Janelas Verdes, Alcântara, Junqueira, Santo Amaro, Aliança Operária, Rio Seco e Boa Hora, a tropa de choque policial viu-se impotente para afrontar os manifestantes, armados tão-só das pedras da calçada.

E é a própria PSP de Lisboa (ver comunicado anexo) que confessa que "terminado o funeral, [os manifestantes] espalharam-se, em vários grupos, pela cidade, fugindo à viigilância da Polícia e partiram montras na Avenida Duque de Loulé e na Rua do Conde de Redondo." E conclui que "durante estes incidentes, foram presos vinte indivíduos, alguns transportando pedras, entre os quais catorze estudantes". E, para que não restassem dúvidas desta "primavera marcelista", a PSP finaliza o seu comunicado com a seguinte informação: "Todos os presos foram enviado à Direcção-Geral de Segurança, visto o carácter da sua actividade criminosa."

Também no domingo se voltaram a realizar novas manifestações em Lisboa, em Coimbra e no Porto.

O assassinato de Ribeiro Santos conheceu também significativa relevância na imprensa internacional (ver anexo 10) e através da edição de comunicados em diversas línguas por emigrantes portugueses (ver anexos 11 e 12).