Processo

A PIDE/DGS, o 2.º Tribunal Militar Territorial de Lisboa e o Governador Militar de Lisboa encenaram durante um ano um processo em que seria réu o assassino de Ribeiro Santos, o agente de 2.ª classe da DGS, António Joaquim Gomes da Rocha.
Esse processo, iniciado, com data de 12 de outubro de 1972, por uma informação "para os fins convenientes" do diretor de serviços da PIDE/DGS, Álvaro Pereira de Carvalho, será arquivado em 25 de outubro de 1973 por despacho do governador militar de Lisboa, general Edmundo da Luz Cunha.
Desde o primeiro momento, a falsificação dos dados factuais e os embustes caracterizaram toda a intervenção daquelas entidades, tentando desesperadamente ocultar as condições em que Ribeiro Santos foi assassinado e, pelo contrário, efetuando diligências que visavam desvirtuar a realidade e intimidar as testemunhas, insinuando mesmo que as vítimas seriam, afinal, os responsáveis.

Pides
Principais pides envolvidos no "processo" organizado pela polícia política e pelo Governo Militar de Lisboa/2.º Tribunal Militar Territorial de Lisboa
A arma do crime
O agente da PIDE/DGS que assassinou Ribeiro Santos utilizou uma pistola Walther, modelo PP, de calibre 7,65 mm
Notificação
Em 17 de abril de 1973, o pai de Ribeiro Santos, Dr. Vasco Artur Ribeiro dos Santos, foi notificado pelo 2.º Tribunal Militar Territorial de Lisboa em termos bem elucidativos.
Garantia administrativa
Pedro Cabrita, o advogado do pide que matou Ribeiro Santos, vem ao processo do TMT, suscitar a questão da "garantia administrativa".
Coincidências
A 13-01-1973, a PIDE/DGS enviou para o Governador Militar de Lisboa o processo sobre o assassinato de Ribeiro Santos. E, no mesmo dia, o governo demitiu 12 funcionários públicos acusados de participarem na Vigília pela Paz na Capela do Rato.
Testemunhas
Apesar da dificuldade em aceder ao conhecimento do processo, o advogado Joaquim Mestre indica 11 nomes de pessoas que "testemunharam os factos de que foi vítima o filho do requerente".
Arquivamento
A 25-10-1973, o governador militar de Lisboa, gen. Edmundo da Luz Cunha, mandou arquivar o processo em que era arguido o pide Gomes da Rocha, que assassinara Ribeiro Santos um ano antes.
Direcção-Geral de Segurança
Reorganização da Direção-Geral de Segurança (a PIDE mudou de nome para DGS)
Auto de corpo de delito
Em 18 de outubro de 1972, a Polícia Judiciária remeteu à Direção-Geral de Segurança uma "Ocorrência" respeitante à morte de José António Leitão Ribeiro Santos, o relatório da respetiva autópsia e uma embalagem com um projéctil encontrado no seu cadáver. Na mesma data, Silva Pais, diretor-geral de Segurança, mandou abrir um auto de corpo de delito
A "reconstituição"
Para organizar a “reconstituição” do crime, a PIDE/DGS fez deslocar ao anfiteatro do ISCEF uma vintena de agentes.
Águas turvas
Com data de 11 de janeiro de 1973, o inspetor-adjunto da PIDE/DGS Alberto Henrique de Matos Rodrigues assina o relatório do auto de corpo de delito, para que fora nomeado.
Ordenados 5 inquéritos e processos
A fúria desesperada do regime perante a reação popular ao assassinato de Ribeiro Santos ficou bem patente na repressão que se abateu sobre os protestos que surgiram de muitos lados. Sendo uma típica ditadura burocratizada, foi também através de papéis e processos que o regime se tentou defender e, ao mesmo tempo, atacar quem se lhe opunha.
Revisão de processo
De como o processo organizado pela polícia política e transitado para tribunal militar, onde seria arquivado, esteve, e não esteve, para ser revisto na Comissão de Extinção da PIDE/DGS e LP. Uma revisão que, afinal, nunca existiu.