Livrelco - Cooperativa Livreira de Universitários

Data
março 1972

Foi no ano de 1972, alguns meses antes de Ribeiro Santos ter sido assassinado pela PIDE/DGS, que a Livrelco – Cooperativa Livreira de Universitários- um dos instrumentos mais relevantes da luta antifascista estudantil e não só - foi encerrada temporariamente pela PIDE/DGS em Março e, posteriormente, em Setembro, foi extinta pelo governo primaveril marcelista.

Constituída em 1962 por um grupo de alunos do Instituto Superior de Agronomia, como cooperativa que apenas encomendava os livros que fossem requisitados pelos seus sócios, a Livrelco passou mais tarde a dispor de uma livraria também de venda a não sócios e foi-se tornando num fortíssimo centro de intensa actividade cultural progressista e revolucionária contra a repressão fascista e a guerra colonial, principalmente a partir de 1967.

A par de ir multiplicando anualmente a venda de livros académicos, era a Livrelco que, fugindo à perseguição da PIDE, conseguia também colocar nas mãos dos estudantes livros e publicações estrangeiros e nacionais censurados e proibidos pelo regime ditatorial de Salazar e Caetano.

Ao mesmo tempo que as principais associações de estudantes passaram a integrar os seus órgãos directivos, à data do seu encerramento pela PIDE/DGS, em 1972, o número de sócios-cooperantes era superior a 6.000 (quando, em Maio de 68, não ultrapassava os 2.600) e o volume de vendas excedia o de todas as livrarias de Lisboa.

Apercebendo-se de que a partir da Livrelco, os estudantes passaram também a promover actividades culturais em cooperativas populares de consumo com vista à elevação da consciência política e mobilização de sectores operários contra a ditadura e a guerra colonial, o governo fascista de Marcelo Caetano publica, em Novembro de 1971, decreto-lei n.º 520/71 (ver anexo), pelo qual proíbe o exercício pelas cooperativas de actividades não económicas, sujeitando à aprovação do ministro do Interior os estatutos que tivessem como objecto ou previssem aquelas actividades.


Associando-se a cooperativas como a Livrope, de Alverca, a Livrelco encabeça o movimento cooperativista de luta contra aquele decreto-lei, levando a cabo uma vasta campanha de propaganda junto de dezenas de cooperativas de consumo.

Recusando-se a Livrelco a alterar os seus estatutos, a PIDE/DGS começa por encerrar as suas instalações pelo período de 180 dias, com o pretexto da venda de livros retirados do mercado e, posteriormente, por despacho do ministro do interior de 10-09-72, a Livrelco é dissolvida.

Em resposta ao encerramento da Livrelco, constituíram-se em todas as Faculdades Grupos de Apoio à Livrelco, que organizaram bancas para continuar a vender os livros (de estudo e proibidos) que se tinha conseguido retirar da sede da cooperativa.

Ribeiro Santos foi um sócio activo da Livrelco, participando no debate político que, em particular a partir de 1969, se travou na Livrelco, em torno da sua estratégia no seio do movimento estudantil e cooperativista.

ver posição assumida por um Grupo de Apoio à Livrelco sobre o assassinato de Ribeiro Santos

destaques

Direcção-Geral de Segurança
Reorganização da Direção-Geral de Segurança (a PIDE mudou de nome para DGS)
Remodelação governamental
Remodelação do governo de Caetano: entra Cotta Dias para as pastas da Economia e das Finanças, substituindo Dias Rosas.
O "clima de paixão" visto pelo IST
O Conselho Escolar do IST aprovou um documento "para evitar que o "clima de paixão" induzido pelo incidente ocorrido no ISCEF no passado dis 12 possa perturbar brusca e irreversivelmente as condições normais de funcionamento que se estão verificando no IST"