UM "bufo" mandado

Data

Às 17.00 horas do dia 12 de outubro de 1972, o guarda da PSP, Victor Lopes Manuel, encontrava-se no interior do ISCEF por ordem do primeiro subchefe Tomé Lopes, da Secção de Informações da 4.ª Divisão da 30.ª Esquadra (Esquadra do Caminho Novo, que então existia junto ao Parlamento e ao ISCEF), "com o fim de assistir a um "meeting" de estudantes, no qual se suspeitava que fossem tratados assuntos organizativos de subversão."

Que ordens levava?
- Colher os panfletos lançados dentro do ISCEF.
- Dar notícia dos dizeres dos cartazes afixados nos edifícios ou jornal de parede.
- Relatar qualquer outro acontecimento ou conversa que interessassem ao fim em vista.

Nas declarações que o guarda da PSP prestou na PIDE/DGS, no dia 28 de outubro, afirmou que, cerca das 17.30 aproximadamente, "encontrando-se o declarante junto à cantina daquele Instituto, foi abordado e logo agarrado por um grupo numeroso de estudantes, enquanto outros impossibilitavam a sua fuga" - pretendiam "saber do declarante sobre a sua permanência ali e da sua identidade." 

Assinou então uma declaração em que afirmava ser agente da Direção-Geral de Segurança.

Levado ao gabinete do Diretor do ISCEF (que estava ausente) e, depois, ao do Secretário - que propôs e fez a ligação telefónica para a PIDE/DGS - também o guarda da PSP participou nesse contacto telefónico, aí dizendo, afinal, que não era "agente da DGS", declarando no auto referido que "foi logo novamente interrompido pelos estudantes", sendo "conduzido pelos mesmos estudantes para o anfiteatro do Instituto, onde de pé, ao centro da sala e junto a uma secretária de costas para um quadro de ardósia e com as mãos atrás, lhe foi enfiado um saco de papel até aos ombros que inclusivamente lhe dificultava a respiração"

Segue-se depois uma confusa descrição do que se passou após a aparição dos dois enviados da PIDE/DGS, acompanhados pelo Secretário do Instituto e por alguns dirigentes da Associação de Estudantes, até que, após "as detonações, não sabe quantas", "o declarante viu a sua possibilidade de fuga que aproveitou" - e lá correu para a esquadra do Caminho Novo.

As ordens que recebera eram bem específicas e claras, devendo apresentar as suas participações ao Comandante de Divisão. Não sabemos se o fez, mas a verdade é que os que o enviaram espiar o ISCEF e o Meeting contra a repressão pretendiam, precisamente, recolher elementos que pudessem sustentar novas ações repressivas. Deste modo, facilmente se entende que o assassinato de Ribeiro Santos é mais um ato desse desespero repressivo do regime de Marcelo Caetano.

destaques

Direcção-Geral de Segurança
Reorganização da Direção-Geral de Segurança (a PIDE mudou de nome para DGS)
Remodelação governamental
Remodelação do governo de Caetano: entra Cotta Dias para as pastas da Economia e das Finanças, substituindo Dias Rosas.
O "clima de paixão" visto pelo IST
O Conselho Escolar do IST aprovou um documento "para evitar que o "clima de paixão" induzido pelo incidente ocorrido no ISCEF no passado dis 12 possa perturbar brusca e irreversivelmente as condições normais de funcionamento que se estão verificando no IST"