Faculdade de Medicina questiona governo

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O Ministério da Educação Nacional viu-se confrontado com tomadas de posição questionando as circunstâncias que rodearam a morte de Ribeiro Santos e as medidas repressivas que se seguiram.

Avulta o voto emitido pelo Conselho Escolar da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa que, em 31 de outubro, apreciou a situação escolar, considerando "os diversos aspetos do problema". E que o diretor da Faculdade, Prof. Cândido de Oliveira, remeteu ao reitor da Universidade em 3 de novembro.

Vale a penas transcrever esse voto na íntegra:
"Àcerca dos recentes acontecimentos escolares e da repercussão que eles vêm tendo e podem ainda vir a ter nos trabalhos do presente ano lectivo desta Faculdade, o Conselho desejaria ser informado do que se apurou sobre a morte lamentável dum estudante e das razões determinantes das medidas desencadeadas, a fim de poder destrinçar entre os motivos puramente escolares e os de qualquer outra natureza que o Conselho não deseja ver imiscuídos."

Uma semana depois, o reitor envia ao Diretor-Geral do Ensino Superior e das Belas-Artes cópia do ofício assinado por Cândido de Oliveira. E, curiosamente, essa correspondência só é registada naquela direção-geral do ministério no dia 20 de novembro.

Em 02-12-1972, ou seja, um mês após a tomada de posição de Medicina, o Secretário de Estado da Instrução e Cultura, João Luís da Costa André, profere um despacho em que, à primeira vista, parece responder às questões suscitadas pelo Conselho da Faculdade de Medicina e, no entanto, só pretende ameaçar os que assumiram esse voto.

Na verdade, sobre o assassinato de Ribeiro Santos, esse Secretário de Estado limita-se a remeter para o comunicado da direção do ISCEF e para a nota oficiosa do ministro do Interior e, quanto ao "apuramento das responsabilidades dos agentes" da PIDE/DGS, em auto de corpo de delito organizado pela própria polícia política, "entende o Governo não dever dar publicidade a quaisquer novos elementos" enquanto durar a instrução desse processo - prometendo que em breve o país será informado (note-se que o arquivamento desse processo ocorreria ...um ano depois).

Mas, face à desasombrada posição do Conselho da Faculdade de Medicina de Lisboa e do seu Diretor, o Secretário de Estado adota uma clara atitude ameaçadora: "Parece, porém, que nada poderá influir no cumprimento dos deveres que aos elementos docentes incumbem no tocante ao ensino dessa escola e à disciplina que nela deve reinar."

Esta fúria governamental tentava assim responder a quantos denunciaram o assassinato de Ribeiro Santos e a repressão que se seguiu - recordemos que também os médicos da Secção Regional de Lisboa da Ordem dos Médicos tinham emitido um corajoso comunicado intitulado "Foi morto um estudante", violentamente perseguido pela PIDE/DGS.

destaques

Direcção-Geral de Segurança
Reorganização da Direção-Geral de Segurança (a PIDE mudou de nome para DGS)
Remodelação governamental
Remodelação do governo de Caetano: entra Cotta Dias para as pastas da Economia e das Finanças, substituindo Dias Rosas.
O "clima de paixão" visto pelo IST
O Conselho Escolar do IST aprovou um documento "para evitar que o "clima de paixão" induzido pelo incidente ocorrido no ISCEF no passado dis 12 possa perturbar brusca e irreversivelmente as condições normais de funcionamento que se estão verificando no IST"