Logo após o assassinato de José António Ribeiro Santos, os corpos gerentes da Secção Regional de Lisboa da Ordem dos Médicos emitiram um corajoso comunicado intitulado "Foi morto um estudante".
Aí manifestaram a sua solidariedade com o pai e o irmão de Ribeiro Santos, ambos médicos, e denunciaram a "escalada cada vez mais violenta da repressão", "acreditando que nenhum cidadão consciente pode deixar de se sentir profundamente indignado perante tais violências lesivas dos mais elementares direitos."
Entretanto, já a Faculdade de Medicina de Lisboa e o seu Diretor, Cândido de Oliveira, tinham questionado o governo, aprovando um voto em 31 de outubro.
Aquele comunicado, que teve uma tiragem de 6.000 exemplares, foi distribuído por todos os médicos do país e, no caso de Lisboa, "porta a porta a todos os médicos por um funcionário da Ordem, que "ficou a lembrar-se dessa sua colaboração toda a vida."
A PIDE/DGS perdeu a cabeça e iniciou uma extensa perseguição a quantos o assinaram, ou seja, a todos os membros dos corpos gerentes da Secção Regional de Lisboa da Ordem dos Médicos (ver lista anexa). Assim, a polícia política logo abriu, em 13-11-1972, um processo por "crimes contra a segurança do Estado" contra António Galhordas (Presidente da Assembleia Regional) e outros, processo a cargo do inspetor Cândido Pires.
A partir de 20 de novembro, a PIDE/DGS chama e interroga todos os dirigentes da Secção Regional de Lisboa da Ordem dos Médicos, com excepção de 4 que se encontravam ausentes do país.
Nenhum desses médicos denunciou os seus colegas e todos eles disseram apoiar o teor desse comunicado, recusando-se muitos a responder sequer às perguntas dos pides.
Entretanto, a polícia realizou buscas no Instituto Bacteriológico Câmara Pestana e na própria Ordem dos Médicos, conseguindo encontrar o original manuscrito do comunicado (ver imagem anexa) e identificando como sua autora Isabel do Carmo e também o colega Rui de Oliveira, que introduzira alguns breves acrescentos no texto original.
Assim, a 12 de fevereiro de 1973, o inspetor Cândido Pires mandou remeter ao Adjunto do Procurador da República no Tribunal Criminal de Lisboa os autos, acusando Isabel do Carmo e Rui de Oliveira de , "como se admite", terem redigido o "mencionado impresso".
Um mês depois, a 16 de março, o adjunto do Procurador da República no Tribunal Plenário, Carlos Costa Saraiva, apressa-se a emitir mandados de captura referentes aos arguidos Rui Fernando Proença de Oliveira e Maria Isabel Augusto Cortês do Carmo, "a fim de serem devidamente cumpridos."
Na realidade, Isabel do Carmo seria detida mas saíu mediante caução, "desaparecendo" logo de seguida. Rui de Oliveira não chegou a ser preso pois entretanto também "desapareceu". Ainda assim, Isabel do Carmo recuperou o valor da caução após o 25 de abril de 1974!
Mas a repressão continuou: o governo consumou o seu principal objetivo e demitiu a direcção do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos, nomeando um Curador em sua substituição.