A PIDE/DGS organiza diversas “fases” da reconstituição, cuidadosamente fotografadas:
- "Perante uma assistência computada entre duzentos e trezentos indivíduos", coloca o guarda da PSP por trás da secretária existente no anfiteatro e com um saco de plástico enfiado na cabeça;
- Os dois pides e o Secretário do ISCEF entram pela porta "do extremo esquerdo do anfiteatro";
- Uma vez dentro do anfiteatro "um aluno retira o capuz plástico da cabeça" do guarda da PSP apanhado, "enquanto o senhor secretário e os dois agentes da Direcção-Geral de Segurança assistiam afastados".
- "Como [os agentes da PIDE/DGS] tivessem negado que o Victor Lopes Manuel [o guarda da PSP] fizesse parte da DGS e se apressassem para abandonar o anfiteatro os alunos cercaram-nos ameaçadoramente."
- Tendo o secretário do ISCEF abandonado o anfiteatro, "os agentes da DGS foram atacados por trás e pela frente, manietando-os uns e dando-lhes socos e pontapés outros ao que os agentes quase não puderam reagir".
- "Tentou então o agente Gomes Rocha sacar a sua pistola da cintura enquanto o Cabral da Costa [o outro pide] se aproximava da porta de saída agredido e manietado por outros alunos".
- "No momento em que o agente Gomes Rocha tentava sacar a sua pistola encontrar-se-ia um pouco à sua frente e para a direita o aluno de direito Ribeiro Santos que ao observar o facto se teria afastado em direcção às carteiras".
- "O agente Gomes Rocha tendo conseguido sacar a sua pistola procurou com dificuldade meter um cartucho na câmara pois continuava manietado por trás por um aluno, o Reis Lamego, e agredido por outro de lado, o que motivou um disparo acidental que foi atingir o aluno Ribeiro Santos na região lombar direita."
- "Esse disparo e a queda de Ribeiro Santos" (...) provocou o pânico e abandono precipitado do anfiteatro" e o guarda da PSP aproveitou para fugir também.
- O agente Gomes Rocha tentou desenvencilhar-se do Reis Lamego e tentou atingi-lo com um tiro mas falhou
- Novo tiro e mais uma vez falhou.
- Mais um tiro e acertou na coxa de José Lamego, conseguindo libertar-se dele
- Disparou depois para o solo "mantendo em respeito os agressores e cobrindo assim a sua retirada"
- "Já fora do anfiteatro ainda foi agredido à pedrada não tendo sido atingido por mera sorte mas conseguindo afugentar os agressores devido a empunhar a sua arma."
Esta versão da PIDE/DGS tenta depois “explicar” como é que o pide Gomes da Rocha, matou Ribeiro Santos pelas costas: "nessa altura ele teria verificado o facto de o agente estar já na posse da arma e estaria a rodar para a esquerda para poder avisar disso os restantes alunos".
A conclusão final da “reconstituição”, assinada pelo "perito" Carlos Lopez Velloso" (como é óbvio, inspetor-adjunto da PIDE/DGS), afirma, despudoradamente, "que os factos demonstram tratar-se de actos de pura legítima defesa tanto mais que o agente embora armado penetrou no anfiteatro sem cartucho na câmara o que demonstra a sua boa fé" - não existindo qualquer prova de que não tivesse bala na câmara, salvo o que declarou … o próprio assassino.