O ministro do Interior, António Manuel Gonçalves Ferreira Rapazote, mandou incluir nos jornais de 14 de outubro de 1972 um “comunicado” (vulgo “nota oficiosa”, de publicação obrigatória).
Ancorado na versão dos acontecimentos fornecida pela PIDE/DGS, esse texto é um chorrilho de mentiras e meias-verdades que pretendeu "apagar" o assassinato cometido pela polícia política colocada diretamente sob as suas ordens e, sobretudo, ameaçar e intimidar quantos se ergueram contra a violência da repressão fascista.
Aquele ministro foi, aliás, um exemplo evidente da continuidade na mudança na passagem do salazarismo ao caetanismo: nomeado ministro do Interior por Oliveira Salazar, já após a sua queda da cadeira, permanecerá nessas mesmas funções, com Marcelo Caetano, até novembro de 1973 - correspondendo esse período ao rápido agravamento do recurso à violência pelas forças repressivas e, em especial, pela PIDE e pela sua sucedânea DGS.
A principal infâmia deste comunicado consiste na rápida construção de uma versão falseada do assassinato de Ribeiro Santos, colocando os dois pides que se apresentaram no ISCEF como "vítimas", ao afirmar que "um grupo passou deliberadamente à agressão, tentando dominá-los, envolvendo-os, manietando-os e agredindo-os". E mais afirma que "um dos agentes foi completamente dominado, e o outro, embora agarrado pelas costas, conseguiu retirar a pistola da cintura e fazer três tiros com o propósito de intimidar os seus agressores e em condições de não poder alvejar qualquer deles". Veja-se ainda (anexo) o título miserável com que o jornal "Época" apresenta a referida nota oficiosa.
Este miserável malabarismo - que a PIDE/DGS veio a desenvolver nas suas manobras posteriores de encobrimento - visou, desde o primeiro momento, desresponsabilizar a polícia política de mais este este crime, insinuando, pelo contrário, que seriam os "grupos extremistas" a "alimentar a luta" e a "fomentar a violência".
Rapazote, o autor deste comunicado, viria a fugir para Espanha após 25 de abril de 1974, onde se entregou também às conspirações contra o novo regime em Portugal.