No dia 30 de dezembro de 1972, um grupo de católicos, a que se associariam não católicos, organiza uma vigília de 48 horas, na Capela do Rato, em Lisboa, sobre a paz e sobre a situação vivida nas guerras coloniais.
No dia seguinte, os participantes aprovam uma moção repudiando a política do Governo de “prosseguir uma guerra criminosa com a qual tenta aniquilar movimentos de libertação das colónias” e denunciando a “cumplicidade da hierarquia da Igreja Católica face a esta guerra”.
Ao final do dia, a vigília é interrompida pelas forças policiais e os participantes são conduzidos à esquadra local, sendo que 14 permaneceriam detidos durante duas semanas na prisão de Caxias. Os 14 funcionários públicos identificados na vigília seriam alvo de processos de demissão, conforme deliberação do Conselho de Ministros.
Em janeiro de 1973, os acontecimentos da Capela do Rato têm repercussões na Assembleia Nacional. Na sessão de 15 de janeiro, o deputado Casal-Ribeiro condena a organização da vigília, considerando-a uma ofensa às Forças Armadas, “cuja abnegada missão no Ultramar consiste em manter a integridade nacional”.
No dia seguinte, o Deputado Sá Carneiro apresenta um requerimento ao Governo, pedindo esclarecimentos acerca do caso da Capela do Rato. O deputado Deputado Miller Guerra, da "Ala Liberal", pergunta, na sessão de 23 de janeiro,, em nome da liberdade de pensamento e de expressão, “Como pode a Igreja ser livre num Estado que coarta a liberdade de pensamento e de expressão?
Os acontecimentos da Capela do Rato, que fizeram estremecer a consciência de numerosos católicos e não católicos, responderam à pergunta. E acrescenta que "os católicos reunidos numa capela para discutirem a justiça, a paz e a guerra são expulsos do templo…"
Face ao bloqueio total que as suas posições encontram naquela Assembleia, Miller Guerra anuncia, no dia 6 de fevereiro, a sua renúncia ao mandato de deputado, acompanhando idêntica atitude de Sá Carneiro. Miller Guerra afirma-se “desesperançado que a [sua] voz seja ouvida” contra “os abusos da censura prévia” de um regime que entende “autocrático e reacionário”.