Na faculdade do Campo Grande, encontrou polícias vários, mascarados de professores de Direito. Quilos de sebentas bafientas e muitas prepotências. Proibido pensar, proibido falar, proibido reunir, à força de cargas de polícia e pide em casa à hora do padeiro.
Toda essa pancadaria, por causa das reivindicações dos estudantes, um melhor ensino, melhores condições de estudo, etc., etc. Do resto, da guerra colonial, não se devia falar. Os estudantes médios e o povo lá fora não compreenderiam. Era esquerdismo.
O Zé António não acreditou e de um plenário com milhares de estudantes saiu um comunicado à população em que, pela primeira vez, se apontava corajosamente o dedo acusador àquela guerra bárbara e injusta. E os estudantes começaram a descer à cidade em luta contra o fascismo e a guerra colonial.
(…)
Prefiro recordar o dia do funeral. Um mar de gente silenciosa em frente da casa. O carro funerário estacionado junto à porta. De repente, sai a urna conduzida aos ombros por um grupo de estudantes, que correm rua acima, para fazerem o funeral a pé. A multidão explode num grito de dor e raiva incontida. A polícia carrega e o largo fica subitamente vazio e silencioso. Sozinhos no meio do largo, os estudantes não largam a urna, apesar de espancados pela polícia. A urna balança para cá e para lá e quase cai, até que a polícia a consegue arrebatar à força e a leva para o carro funerário, debaixo de uma chuva de pedras, atiradas por uns rapazes do bairro, que não eram estudantes e não conhecíamos de lado nenhum. O Zé António devia ter gostado de ver.
Reorganização da Direção-Geral de Segurança (a PIDE mudou de nome para DGS)
Nasceu a 8 de Setembro de 1950 e faleceu em 11 de Janeiro de 2016. Jurista e historiador. Autor, designadamente, de A Guerrilha do Remexido, Timor na Segunda Guerra Mundial. O Diário do Tenente Pires.