José Lamego

Nasceu em 5 de Janeiro de 1953. Jurista. Foi deputado e membro do governo.

Excertos a partir de https://aafdl.pt/de-volta-a-casa-jose-lamego/

Voltando a outubro de 1972, mês do assassinato de José Ribeiro dos Santos, o que é que levou os estudantes àquela reunião no dia 12 de outubro em Económicas.

Como disse, o movimento associativo era difícil de distinguir do movimento político e estudantil.
Houve uma reunião na Faculdade de Economia e o tema, já muito politizado, era contra a repressão e a guerra colonial – claramente era uma reunião contra a repressão e a guerra colonial (só o uso da expressão “guerra colonial” constituía, para as autoridades de então, uma provocação). A nossa Associação Académica estava fechada e, portanto, fomos todos para Economia. Durante a reunião, os estudantes identificam alguém que estava a tomar notas… essa pessoa não era agente da PIDE, hoje posso dizer isso, era agente da Secção de Informações da PSP, mas que depois reportava, naturalmente, as informações à PIDE. Ele é trazido para o anfiteatro, para junto dos alunos, sem qualquer tipo de agressão física.
Mas, depois, quer por parte da Associação Académica, muito próxima do PCP, quer por parte da Faculdade é cometida uma imprudência total ao chamarem dois agentes da PIDE para identificar se aquela pessoa era ou não agente deles. Quando entram os dois agentes da PIDE, identificados como tal, havia um ódio generalizado e há, logo ali, um confronto em que um dos agentes é dominado prontamente, enquanto o outro puxa a pistola e dispara um primeiro tiro e, depois do segundo, eu lanço-me para cima dele e consigo dominá-lo após um momento de luta corporal com ele. No entanto, ele continua a tentar disparar e o último tiro consegue acertar-me numa perna. Com o impacto da bala, tenho de o largar, apesar de ele ainda me apontar a arma para o peito e disparar a menos de 1,5m… felizmente, já não tinha mais balas (senão, não estava aqui a dar esta entrevista…)! Eu fujo, naturalmente, ele ainda mete o outro carregador na arma, mas eu consigo fugir dali.
Depois, fui levado para o Hospital de Santa Maria e transferido para o Hospital de São José. Em São José, o Dr. Ferraz de Abreu, médico militar, ofereceu-me fuga, para eu fugir para França, mas eu ainda não estava identificado pela Polícia e, portanto, recusei. Depois fui levado para o Hospital no Campo Mártires da Pátria e, posteriormente, fui levado para Caxias, onde fiquei no hospital-prisão. Quero dizer que, curiosamente, o diretor do hospital-prisão de São João de Deus de Caxias era uma pessoa não afeta ao Regime e, portanto, ele ficava a conversar comigo, levava-me livros – os únicos livros que eu podia ler eram “Os Princípios da Economia Política”, do Paul Samuelson, editado pela Gulbenkian, e “A Teoria Geral da Relação Jurídica”, do Professor Manuel de Andrade (por isso é que eu estudei Teoria Geral a sério!). Durante meses e meses eram os únicos livros que eu podia ler.

destaques

Direcção-Geral de Segurança
Reorganização da Direção-Geral de Segurança (a PIDE mudou de nome para DGS)
Remodelação governamental
Remodelação do governo de Caetano: entra Cotta Dias para as pastas da Economia e das Finanças, substituindo Dias Rosas.
O "clima de paixão" visto pelo IST
O Conselho Escolar do IST aprovou um documento "para evitar que o "clima de paixão" induzido pelo incidente ocorrido no ISCEF no passado dis 12 possa perturbar brusca e irreversivelmente as condições normais de funcionamento que se estão verificando no IST"